Foto: Gilson Abreu/AEN

Durante muito tempo, a pecuária brasileira foi alvo de críticas internacionais, quase sempre associadas a desmatamento e altas emissões de carbono. Mas esse retrato começa a ficar para trás. Dados técnicos recentes mostram que o setor passa por uma transformação  profunda.

O Brasil já é o maior exportador de carne bovina do mundo e, ao mesmo tempo, avança rapidamente para produzir mais carne com menor impacto ambiental. Essa combinação não é discurso: é resultado de tecnologia, manejo eficiente e mudança estrutural no campo.

O que dizem os números

Um estudo elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), traz projeções claras e difíceis de ignorar:

  • As emissões por quilo de carne produzida no Brasil podem cair pelo menos 79,9% até 2050.
  • Em um cenário mais avançado, com maior adoção de tecnologia e políticas ambientais, a redução pode chegar a mais de 90%.
  • Mesmo com crescimento da produção, as emissões totais líquidas da pecuária também caem, podendo recuar entre 60% e 85% nas próximas décadas.

Em resumo, o Brasil pode produzir mais carne e poluir menos ao mesmo tempo.

Por que isso é possível?

Essa redução não depende de milagres, mas de práticas que já estão sendo adotadas no campo:

  • Recuperação de pastagens degradadas, que aumenta produtividade sem abrir novas áreas.
  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que melhora o uso do solo e captura carbono.
  • Melhoramento genético e nutrição animal, reduzindo o tempo de engorda e a emissão de metano.
  • Tecnologia e manejo mais eficientes, com menos desperdício e maior produtividade por hectare.

Ou seja, o ganho ambiental vem junto com ganho econômico para o produtor.

Demanda crescente por proteína

Esse avanço ocorre em um momento estratégico. A Ásia vive um aumento estrutural de renda, especialmente na China e no Sudeste Asiático. Com mais renda, cresce o consumo de proteína animal, carne bovina, suína e de frango.

O Brasil, por escala, qualidade sanitária e eficiência produtiva, está no centro dessa demanda. Mas há uma condição clara: a sustentabilidade deixou de ser opcional.

Os dados mostram que o país não apenas atende essa exigência, como pode se tornar referência global de produção responsável.

Sustentabilidade como escudo contra críticas

O debate ambiental muitas vezes ignora dados técnicos e generaliza problemas. O estudo da FGV ajuda a mudar essa narrativa ao mostrar que:

  • A pecuária brasileira não é estática.
  • O setor evolui rapidamente.
  • Há base técnica para comprovar redução de emissões.

Isso fortalece a posição do Brasil em negociações comerciais, acordos internacionais e na defesa do agro contra campanhas ideológicas e desinformação.

O Brasil já alimenta o mundo. Agora, caminha para fazer isso de forma cada vez mais eficiente, sustentável e responsável.

A pecuária brasileira mostra que é possível unir:

  • Produção em escala,
  • Preservação ambiental,
  • Geração de renda,
  • Segurança alimentar global.

Com dados, tecnologia e gestão, o país consolida seu espaço como potência global em alimentos, não apesar da sustentabilidade, mas por causa dela.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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